terça-feira, 30 de novembro de 2010

Corporeidade e lazer: a perda do sentimento de culpa

de Wagner Wey Moreira; por mim.

Mais uma vez sinto a obrigação e o prazer em partilhar com vc leitor este texto que lí sobre corporeidade! O texto dá origem ao título deste post.  Desta vez o autor vem falar sobre nosso corpo como cultural, social e histórico mais a fundo (não havia lido ainda quando enviei meu último post, e foi bom perceber que estou em perfeita dialogicidade com os autores). Para demonstrar este diálogo, optei por uma espécie de fichamento casado com resumo (sem prender-me a  conveniencias da metodologia científica) das partes que considerei mais marcantes e esclarecedoras do texto. Posto o texto conforme escrio pelo autor e comento. Segue abaixo:

"O ser humano, por produzir cultura e história, ao mesmo tempo em que é modificado por essa cultura e essa história que produz, recebe marcas que estão presentes em seu modo de ser e de se relacionar com os outros e com o muno". pg. 85.

"A nossa estrutura social e o nosso modo de vida ocidental levaram-nos a ter, no rendimento, um dos valores mais importantes: uma pessoa "vale o que rende". Render, é óbvio, significa produzir mais, ganhar mais, ter um lucro maior, conotações essas que desprezem os corpos que rendem menos (...), corpo mais valorizado é aquele que vence mais, representa melhor, tem melhor físico, é mais bonito, mais rápido, mais forte, mais alto. (...) O endeusamento do alto rendimento faz com que a maioria das pessoas se sinta incapaz de realizar tarefas". p. 86.

O autor continua falando que, por não saber fazer direito, deixo de jogar volley, futebol, tocar um instrumento, ou mesmo de escrever por não ser poeta. Identifiquei-me muito, pois minha adolescência inteira foi assim: com medo de fazer as coisas e fazer feio, não fazia nada, apenas observava as pessoas fazerem. Não divetia-me por inteiro com meus próprios amigos nos momentos de lazer.
Ainda segundo Moreira, as próprias aulas de anatomia com os profissionais que lidam com o corpo (médico, fisioterapeua, educador físico, etc) são através do corpo de um morto, quando nós mesmo podemos e devemos manipular e conhecer melhor nosso corpo, considerando-o dentro de um contexto, em sua unidade e totalidade. Ele salienta: " Dominamos técnicas, dominamos até o processo, mas, na maioria das vezes, não temos a visão contextualizada e nem temos a consciência de que os processos devem se transformar em novos projetos".

"Nós passamos toda nossa vida querendo ser sempre mais, lutando para isso, sejam lá quais valores possamos adjetivar para esse mais. (...) (devemos) relacionar o ato de superação dessa corporeidade ao contexto onde ela se insere, na vivência da competição como algo não necessariamente antagônico à cooperação, à participação e, muito menos, como algo que objetiva a eliminação do outro. (...). Dessa forma, os valores de expansão, competição, quantidade e dominação, presentes no aprisionamento do corpo do ser humano hoje, poderiam ser substituídos por valores de conservação, cooperação, qualidade e parceria. Que tal uma ação em lazer com estes últimos valores? Corporidade e lazer, mais que uma mudança de procedimentos, mais que mudança de estratégias é uma mudança de valores".

O autor continua falando sobre como somos condicionados a trabalhar, trabalhar e ganhar dinheiro e esquecemos de nos divertirmos, do nosso lazer! Jogar, ler, viajar, ir ao cinema, conversar com os amigos, etc.  Destaquei um único parágrafo sobre isto, mas completo!

"A corporeidade que sou reclama o direito da vivência do lazer e, com ela, a incorporação de todos os seus constitutivos. Da mesma forma que posso ser valorizado por minha produção, devo ser respeitado por meus momentos de nada fazer, de escolher ouvir um bom jazz, de ir ao teatro ou ao cinema sem peso na consciência, de lerum livro em um dia frio (...) de degustar um bom aperitivo em uma bela praia ou em um bar da minha preferência (...), olhando um belo pôr do sol ou estar lá pelo simples prazer do momento, ou mesmo algo menos sofisticado, em minha própria casa, na companhia de meus familiares e das pessoas que amo, não necessitando justificar nada a não ser o direito imperioso do lazer, elemento constitutivo do viver bem e em abundância".

Tal texto veio bem a calhar com meu momento! Fim de semana eu, meu marido, cunhado e esposa, viajamos para guaramiranga, nos hospedamos em um belo hotel e fizemos tudo o que gostamos: pescamos, churrascamos, conversamos muuuuito, brincamos e dormimos muito! O ruim foi ter que pagar um valor relativamente caro por isto. Viajo muito a trabalho, mas percebí que pouco viajo a lazer... Ler este texto tirou-me todo o peso da consciência! Viva sua vida, pois ela é agora! Viva-a com as pessoas que ama e fazendo o que gosta!
Fotos pra matar a saudade e despertar em vcs leitores desejo em se divertir sem remorço.

                                                       No Hotel Cana Brava


                                                            No píer! Delícia!


                                                              No pico alto!!!!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O QUE O CORPO DIZ SOBRE NÓS?

Luana é uma jovem de 18 anos que trabalha e faz faculdade de pedagogia à noite. Trabalha não porque precise (precisar mesmo ela não precisa). Sua mãe consegue dar-lhe o básico. Sempre estudou em escola particular, mesmo paga com sacrifício, mora em casa própria e recebe dinheiro para sair uma vez por mês com os amigos, então, não é que precise, mas decidiu trabalhar para ganhar experiência no mercado de trabalho e comprar seus mimos com seu salário, que ainda é pouco, assim como suas necessidades.
Trabalha em uma escola particular como professora auxiliar na sala do infantil 2. Foi difícil conseguir a vaga, pois a diretora viu algumas de suas tatuagens (tinha cinco, mas apenas 2 a mostra: na mão e no pescoço) e, embora não tenha dito nada, pôde perceber pelo seu olhar e pela sua expressão que não gostou. Quando já estava contratada, a diretora deu-lhe algumas orientações sobre o trabalho e salientou que os pais precisavam sentir confiança na funcionária para permanecerem na escola, por isto, firmeza na hora de dar uma resposta e seriedade eram essenciais. Percebeu também em alguns pais, falta de confiança nela. Perguntava-se se pela idade ou tatuagens. Estes sempre se dirigiam a professora, raramente a ela.
Quanto ao trabalho, ama brincar com as crianças, mas o cuidado ainda é muito grande! A responsabilidade também é enorme! Sua chefe sempre a lembra disso nas reuniões. O trabalho é maravilhoso e Luana gosta muito, mas o salário ainda é muito pouco. Algumas vezes observa Beatriz, a professora com quem trabalha e a escuta reclamar bastante do trabalho, fala que é muito cansativo, trabalhoso, leva muito trabalho pra casa (inclusive manuais), que o salário não compensa e que se ela pudesse voltar atrás, jamais escolheria ser professora novamente. Nestas ocasiões Luana fica se perguntando se não estaria ela também entrando numa fria. Conversa com suas amigas na faculdade que também já trabalham e a maioria também apresentam a mesma dúvida.
Possui muitos amigos de infância e todos fazem faculdade também, mas são cursos que tem maior respeito nas pessoas, como enfermagem, nutrição, medicina, direito... Quando saem juntos e alguém pergunta quais os cursos que fazem, ao chegar sua vez, a pessoa faz um "ah...", mas o assunto a seguir costuma girar em torno das outras profissões.
Luana não tem tanta consciência da desvalorização histórica e cultural do curso, mas sente. Não entende que o professor é uma figura estendida de mãe, mulher, casa... e por isso mesmo o preconceito relacionado ao gênero se remete ao professor. Se for professor de ensino fundamental 2 e médio, a credibilidade é bem maior que professor de educação infantil (criança, brincar, cuidar. Educar só depois). Por isto mesmo as pessoas estranham ao ver uma jovem tatuada sendo "mãe"... Não entende a importância social da sua profissão, e continua seguindo sua vida e seu curso na indecisão. No dia de receber seu salário questiona-se mais uma vez se realmente quer fazer isso o resto da vida. Resolve pelo menos se formar e ver no que dá. Não estava nem ai para o que as pessoas falavam ou como agiam. A vida era dela, a profissão também e até aqui gostava muito. "Isso talvez dê uma boa tatuagem", pensou.

DISCUSSÃO:
Foi proposto por nossa professora uma observação sobre as pessoas da faculdade e fazer uma lista do que percebemos. Achei meio desnecessário e desproposital, pois após a leitura do texto "O manifesto do corpo" e o texto anterior, achava que já havia percebido a importância da mensagem que transmitimos através de nosso corpo. Contudo, após observação e discussão na sala com o que meus colegas também observaram, ví-me voltando ao texto e comparando-o com minhas observações. Se antes já estava tocada quanto a mensagem que nosso corpo transmite, hoje sou convencida do quanto o social e o cultural movem nossos gestos, roupas, forma de andar, falar, parar, etc. Embora inconsciente, queremos realmente transmitir uma mensagem para as pessoas. Não percebemos é o quanto esta mensagem nos foi moldada, repetida até serem imitadas. O texto fala sobre "efeito de representação" nosso para os outros, mas também do efeito bumerangue. Conforme o autor: "Sinais diacríticos estabelecem uma diferença de sentido e significado, apesar de serem, em si mesmos, desprovidos de sentido ou significado. (...) são eles que o definem como pertencendo a uma raça, (...) representante de uma categoria. (...), em todos os casos, o corpo é lugar de representação da própria "alma"". E encerra lindamente: " O corpor manifesta-se, faz o seu próprio manifesto. Nas doenças, nos êxtases, nas depressões, nas manipulações de que é alvo, no amor, numa mudança de sexo, numa dança, numa greve de fome. O corpo pede política, e da emancipatória. Por isso é altura de, para além do corpo que se manifesta, construir um manifesto do corpo".
Eu, enquanto aluna, professora, formadora de professora e apaixonada pela profissão, quis colocar em Luana o geral que observamos nos estudantes da uece: classe social, faixa etária, iniciação no mercado de trabalho e, principalmente, temores e preconceitos mais voltados para as pessoas que compõem minha profissão (preconceitos delas e para elas)... Precisamos ter mais consciência da manipulação do sistema em nós, no professor em si e todos os seus instrumentos de trabalho: livros, material, espaço, dificuldade em fazer um bom trabalho, culminando em nosso salário, pois temos o poder de transformar mentes, pessoas e a sociedade em geral, mas primeiro precisamos nos transformar.