segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O QUE O CORPO DIZ SOBRE NÓS?

Luana é uma jovem de 18 anos que trabalha e faz faculdade de pedagogia à noite. Trabalha não porque precise (precisar mesmo ela não precisa). Sua mãe consegue dar-lhe o básico. Sempre estudou em escola particular, mesmo paga com sacrifício, mora em casa própria e recebe dinheiro para sair uma vez por mês com os amigos, então, não é que precise, mas decidiu trabalhar para ganhar experiência no mercado de trabalho e comprar seus mimos com seu salário, que ainda é pouco, assim como suas necessidades.
Trabalha em uma escola particular como professora auxiliar na sala do infantil 2. Foi difícil conseguir a vaga, pois a diretora viu algumas de suas tatuagens (tinha cinco, mas apenas 2 a mostra: na mão e no pescoço) e, embora não tenha dito nada, pôde perceber pelo seu olhar e pela sua expressão que não gostou. Quando já estava contratada, a diretora deu-lhe algumas orientações sobre o trabalho e salientou que os pais precisavam sentir confiança na funcionária para permanecerem na escola, por isto, firmeza na hora de dar uma resposta e seriedade eram essenciais. Percebeu também em alguns pais, falta de confiança nela. Perguntava-se se pela idade ou tatuagens. Estes sempre se dirigiam a professora, raramente a ela.
Quanto ao trabalho, ama brincar com as crianças, mas o cuidado ainda é muito grande! A responsabilidade também é enorme! Sua chefe sempre a lembra disso nas reuniões. O trabalho é maravilhoso e Luana gosta muito, mas o salário ainda é muito pouco. Algumas vezes observa Beatriz, a professora com quem trabalha e a escuta reclamar bastante do trabalho, fala que é muito cansativo, trabalhoso, leva muito trabalho pra casa (inclusive manuais), que o salário não compensa e que se ela pudesse voltar atrás, jamais escolheria ser professora novamente. Nestas ocasiões Luana fica se perguntando se não estaria ela também entrando numa fria. Conversa com suas amigas na faculdade que também já trabalham e a maioria também apresentam a mesma dúvida.
Possui muitos amigos de infância e todos fazem faculdade também, mas são cursos que tem maior respeito nas pessoas, como enfermagem, nutrição, medicina, direito... Quando saem juntos e alguém pergunta quais os cursos que fazem, ao chegar sua vez, a pessoa faz um "ah...", mas o assunto a seguir costuma girar em torno das outras profissões.
Luana não tem tanta consciência da desvalorização histórica e cultural do curso, mas sente. Não entende que o professor é uma figura estendida de mãe, mulher, casa... e por isso mesmo o preconceito relacionado ao gênero se remete ao professor. Se for professor de ensino fundamental 2 e médio, a credibilidade é bem maior que professor de educação infantil (criança, brincar, cuidar. Educar só depois). Por isto mesmo as pessoas estranham ao ver uma jovem tatuada sendo "mãe"... Não entende a importância social da sua profissão, e continua seguindo sua vida e seu curso na indecisão. No dia de receber seu salário questiona-se mais uma vez se realmente quer fazer isso o resto da vida. Resolve pelo menos se formar e ver no que dá. Não estava nem ai para o que as pessoas falavam ou como agiam. A vida era dela, a profissão também e até aqui gostava muito. "Isso talvez dê uma boa tatuagem", pensou.

DISCUSSÃO:
Foi proposto por nossa professora uma observação sobre as pessoas da faculdade e fazer uma lista do que percebemos. Achei meio desnecessário e desproposital, pois após a leitura do texto "O manifesto do corpo" e o texto anterior, achava que já havia percebido a importância da mensagem que transmitimos através de nosso corpo. Contudo, após observação e discussão na sala com o que meus colegas também observaram, ví-me voltando ao texto e comparando-o com minhas observações. Se antes já estava tocada quanto a mensagem que nosso corpo transmite, hoje sou convencida do quanto o social e o cultural movem nossos gestos, roupas, forma de andar, falar, parar, etc. Embora inconsciente, queremos realmente transmitir uma mensagem para as pessoas. Não percebemos é o quanto esta mensagem nos foi moldada, repetida até serem imitadas. O texto fala sobre "efeito de representação" nosso para os outros, mas também do efeito bumerangue. Conforme o autor: "Sinais diacríticos estabelecem uma diferença de sentido e significado, apesar de serem, em si mesmos, desprovidos de sentido ou significado. (...) são eles que o definem como pertencendo a uma raça, (...) representante de uma categoria. (...), em todos os casos, o corpo é lugar de representação da própria "alma"". E encerra lindamente: " O corpor manifesta-se, faz o seu próprio manifesto. Nas doenças, nos êxtases, nas depressões, nas manipulações de que é alvo, no amor, numa mudança de sexo, numa dança, numa greve de fome. O corpo pede política, e da emancipatória. Por isso é altura de, para além do corpo que se manifesta, construir um manifesto do corpo".
Eu, enquanto aluna, professora, formadora de professora e apaixonada pela profissão, quis colocar em Luana o geral que observamos nos estudantes da uece: classe social, faixa etária, iniciação no mercado de trabalho e, principalmente, temores e preconceitos mais voltados para as pessoas que compõem minha profissão (preconceitos delas e para elas)... Precisamos ter mais consciência da manipulação do sistema em nós, no professor em si e todos os seus instrumentos de trabalho: livros, material, espaço, dificuldade em fazer um bom trabalho, culminando em nosso salário, pois temos o poder de transformar mentes, pessoas e a sociedade em geral, mas primeiro precisamos nos transformar. 

Um comentário:

  1. Achei interessante esta historia da aluna, mas a verdade é que as pessoas olham muito o exterior das pessoas. Isso quer dizer que se tratando de uma profissão que trabalha com publico diretamente e necessario um certo cuidado com o corpo é a aparência. Através dela podemos ver oe stilo d euma pessoa que muita das vezes identifica sua personalidade, isso não é ser preconceituosa ou taxativa, mas o corpo é o espelho da alma. Admirei a aluna por ser determinada e persistir na sua decisão profissional, acho que muitos não tem noção do que significa PEDAGOGIA, não existe esse que já não passou pelas mãos d euma amavél professora se não fossem elas como estaria nosso mundo?? eu estaria aqui comentando? saberia ler uma carta? conseguiria enfrentar este mundo de tanta tecnologia? Cada profissão tem seu valor.

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